7 de set. de 2011

Nos cumes da indefinição




"Não ter nunca a oportunidade de tomar partido, de decidir-me ou de definir-me:não há desejo que tenha com mais frequência. Mas nem sempre dominamos nossos humores, essas atitudes em germe, esses esboços de teoria. Visceralmente inclinados à estruturação de sistemas, nós os construímos sem descanso, sobretudo em política, domínio de pseudoproblemas, onde se dilata o mau filósofo que reside em cada um de nós, domínio do qual gostaria de afastar-me por uma razão banal, uma evidência que aparece a meus olhos como uma revelação: apolítica gira unicamente em torno do homem. Tendo perdido o gosto pelos seres, esforço-me em vão por adquirir o gosto pelas coisas; limitado forçosamente pelo intervalo que os separa, exercito-me e esgoto-me à sua sombra. Sombras também essas nações cuja sorte me intriga, menos por elas mesmas que pelo pretexto que me oferecem de vingar-me do que não tem nem contorno nem forma, de entidades e de símbolos. O homem desocupado que ama a violência salvaguarda seu savoir-vivre confinando-se em um inferno abstrato. Deixando de lado o indivíduo, ele se liberta dos nomes e dos rostos, responsabiliza o impreciso, o geral e, orientando para impalpável sua sede de extermínio, concebe um gênero novo: o panfleto sem objetivo."

(Cioran, História e Utopia)

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