14 de set. de 2011

A Morte

morte-perfume

 

“Nós tendemos à morte como a flecha ao alvo e não a erramos jamais. A morte é nossa única certeza e sabemos o tempo todo que vamos morrer, não importa quando e não importa onde, não importa a maneira. Pois a vida eterna é um sem-sentido, a eternidade não é a vida, a morte é o repouso ao qual aspiramos. Vida e morte estão ligadas, aqueles que pedem outra coisa pedem o impossível e só obterão fumaça, sua recompensa. Nós, que não jogamos palavras ao vento, consentimos em desaparecer nos aprovamos de consentir, não escolhemos nascer e nos julgamos felizes por não viver em parte alguma nesta vida, que nos foi imposta mais do que dada, vida cheia de necessidades e dores, com alegrias problemáticas e desagradáveis. Que um homem seja feliz, o que isto prova? A felicidade é um caso de espécie e nós só observamos as leis do gênero, raciocinamos a partir delas, são elas que aprofundamos e sobre elas que meditamos. Desprezamos quem quer que busque o milagre e não somos ávidos de beatitudes. Nossa evidência nos basta e nossa ultrapassagem não se limita a alhures.”

 

(Albert Caraco: Bréviaire du Chaos - L'Age d'Homme)

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