5 de set. de 2011

No Cemitério das Definições

Emil Cioran

estatua_cemiterio

 

Temos boas razões para imaginar um espírito gritando: “Agora tudo carece para mim de objetivo, pois dei as definições de todas as coisas”? E se podemos imaginá-lo, como situá-lo na duração?

 

Suportamos ainda melhor o que nos rodeia porque lhe damos um nome – e continuamos. Mas abarcar uma coisa com uma definição, por mais arbitrária que seja – e tão mais grave quanto mais arbitrária é, pois a alma sobrepuja en~tão o conhecimento – , érejeitá-la, torná-la insípida e supérflua, aniquilá-la. O espírito ocioso e disponível – e que só se integra ao mundo graças ao sono – em que poderia exercitar-se senão em ampliar o nome das coisas, em esvaziá-las e substituí-las por fórmulas? Depois evolui sobre escombros; nenhumasensaçãomais; apenas lembranças. Sob cada fórmula jaz um cadáver: o ser ou o objeto morrem sob o pretexto ao qual deram lugar. É a devassidão frívola e fúnebre do espírito. E este espírito se dissipou no que nomeou e circunscreveu. Apaixonado pelos vocábulos, odiava os mistérios dos silêncios pesados e os tornava leves e puros: e ele próprio tornou-se leve e puro, já que aliviado e purificado de tudo. O vício de definir fez dele um assassino gracioso e uma vítima discreta.

 

E foi assim que se apagou a mancha com que a alma marcava o espírito, a única coisa a lhe lembrar que estava vivo.

 

Em: Breviário de Decomposição

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